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Justiça para a nova família

A perspectiva de uma mãe sobre o processo de divórcio da filha

Por: Natasha Carvalho

Muitos aguardavam ser chamados na Defensoria Pública Geral do Ceará. Senhores e senhoras de idade já se encontravam dentro do prédio, mulheres com crianças de colo e gestantes, no caso colocados como atendimento prioritário. Fora desta condição outros na fila de espera, sentados em cadeiras de plástico, logo na entrada. Alguns como acompanhantes dos familiares.

Por instantes uma moça sai do prédio com um bebê nos braços. Um pouco tímida ela ajeitava o sutiã, dando sinais de que tinha amamentado aquele neném. Pelas roupas era um menino e adormecia profundamente depois de um momento de entrega. Essa mesma moça levou a criança aos braços de uma senhora e disse: “Pronto mãe, deu certo, se ele chorar de novo a senhora me liga que eu venho aqui”, tinha um tom de voz baixo e delicado.

O olhar da mãe sobre a filha era de carinho e cuidado. Ela acompanhava a filha e havia pedido liberação do trabalho como caixa de uma loja. Poderia ser um dia de trabalho perdido, entretanto, foram quatro anos de espera. Esse foi o tempo que Maria da Conceição esperou para que acontecesse a entrada do processo de divórcio da filha, Jessica Maria. “Quando começou a namorar com o rapaz, foi com 14 anos, mas só casou no civil aos 18 anos de idade. Eu já não me agradava muito com aquele namoro, sabe como é, menina nova não pode prender, mas o coração de mãe não se engana”, contou dona Conceição, que viu a filha padecer dentro de um casamento com lágrimas e brigas conjugais.

Ela diz que as vezes se sentiu um pouco culpada, porque se não tivesse permitido a união, a história poderia ter sido diferente, mas também sente que fez o melhor e vê todas as tribulações que passou com a filha, como um aprendizado. “Assim que juntaram os panos, foram ao cartório oficializar o matrimonio. Casou grávida e não teve religioso, nem precisou porque a festa do cartório já foi bonita, sabe aqueles casamentos comunitários, foi tudo muito lindo”, relatou a mãe.

Foi o primeiro namorado de Jessica, o primeiro marido, o primeiro dos momentos da adolescência. “Só não foi bonito o que ele fez, mil promessas ditas e quando a gente menos imaginou, se envolveu com as drogas, começou a ser agressivo. É algo que a família quer apagar da história”, disse com o olhar fitado para o chão, recordando do sofrimento que passou com a menina que cuidou com tanto amor. Fala que estava a todo momento sempre conversando, aconselhando os dois e que até mesmo participou da internação do genro em uma clínica. “Ele conseguiu deixar as drogas, só não largou as grosserias com a família”, desabafou.

“Chegou o dia que a Jessica não quis mais saber. Amadureceu, não era mais aquela adolescente. Pensa bem, você é obrigada a ficar com alguém, quando não ama mais?”, indagou, ao mesmo passo que relatou como foi o pedido de separação. De acordo com ela foi desgastante, pois o genro impôs dificuldades. Argumentava que ainda amava a mulher e não queria que o afastassem do filho.

Para a mãe o que causou mais alvoroço foi a ida da filha até Santa Catarina. Passou seis meses por lá e conheceu outro homem. No início temia que sofresse de novo, mas a vinda dele para morar em Fortaleza, acalmou mais os ânimos. “Ele é professor, muito educado e bonito. O que eu mais gostei foi o dia que sentamos e conversamos. Ele falou que pretendia ficar com a minha filha até os dois envelhecerem, que queria um amor pra toda vida.”, e dessa vez Maria da Conceição ergueu o olhar e sorriu com a certeza de quem voltou a ter esperança.

Jessica Maria e o professor tiveram um filho. E a espera pelo divórcio teve um único propósito, casar com o novo parceiro. Enquanto recebia instruções do defensor e como estava o pedido de pensão alimentícia do primeiro filho, Conceição aguardava o veredito da filha, e segurava no colo o segundo neto, de apenas um mês de vida.

Após uma hora de atendimento, Jessica voltou com a resposta de que tudo deu certo. Sua felicidade era tamanha. Mãe e filha comemoraram. Segundo as duas a justiça demorou, entretanto chegou na hora correta. Para Conceição Maria, justiça é a felicidade da filha. E para Jessica Maria, justiça é a felicidade dos filhos. Um pleonasmo de amor.

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